Estamos
constantemente a ouvir que existe um grande número de espécies que se encontram
ameaçadas. No entanto associamos sempre estas a espécies selvagens não próximas
do ser humano. Não obstante, existem algumas que se tornaram muito familiares e
que hoje em dia se encontram em apuros. Uma dessas espécies é o cavalo do
Sorraia. Este animal encontra-se em grande perigo de desaparecer e, com ele, um
dos pontos de ligação entre os cavalos modernos e os ancestrais. Toda a fisionomia
deste animal assemelha-se ao dos cavalos selvagens que outrora percorreram os habitats
naturais da Península Ibérica (os ditos Tarpans), e estudos de DNA já demonstraram que esta raça é
das mais primitivas que se conhece.
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Tarpans (da estepe, no lado esquerdo, e da floresta, no direito) - fonte: goodelie.chez.com |
Este cavalo tem
um perfil convexo e apresenta zebruras no corpo (daí o nome zebro), em especial
nos membros. Estas características encontram-se representadas nalgumas pinturas
do paleolítico do sul da Península Ibérica, o que leva a crer que o cavalo do
Sorraia representa o cavalo selvagem que habitou a região quente meridional da
Península. Em termos de coloração pode ser baio ou rato e possui uma crina e
cauda bicolores para além da chamada risca de mulo que percorre todo o dorso do
animal. As fêmeas têm cerca de 1,44 m até ao garrote, podendo os machos chegar
a atingir 1,48 m.
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Fonte: sorraia.org |
A existência,
até aos nossos dias, deste animal deve-se ao Dr Ruy D’Andrade, que em 1920
encontrou um grupo destes animais a pastar perto de Coruche, nos arredores do
rio Sorraia (que acabou por dar o nome à raça). A partir daí, adquiriu alguns
exemplares (sete fêmeas e três machos) e começou a sua reprodução, no sentido
de evitar o seu desaparecimento, tendo também sido o responsável pela promoção
da raça. A sua família prosseguiu com o seu legado até aos nossos dias.
Pensa-se que, no
total, existam cerca de 200 indivíduos, o que é um número especialmente baixo no que toca à viabilidade de uma espécie,
ainda para mais tendo em conta o núcleo de cavalos que lhe deu origem. Isto faz
com que a população destes animais tenha um alto nível de consanguinidade, com
todos os problemas que daí advêm.
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fonte: ravenseyrie.blogspot.pt |
A nível nacional
e internacional existem alguns criadores deste animal, o que demonstra algum
interesse por parte de pessoas que não querem ver este belo animal desaparecer.
Alguns esforços estão, portanto a ser feitos. Essa informação, e outras, disponível no site:
Mas é necessário
mais, em especial no que toca à divulgação desta raça e suas características
únicas à população portuguesa em geral. O facto de termos este cavalo no nosso
território é muito importante a nível europeu e mundial, especialmente quando
se fala, cada vez mais, em renaturalizar a Europa com espécies de mamíferos de
grande porte.
Poderia esta
espécie ser deixada em total liberdade, para ocupar o lugar que outrora teve no
ecossistema ibérico? Segundo alguns investigadores, é preferível manter a raça
em liberdade condicionada, de forma a que se evitem cruzamentos de indivíduos muito
próximos geneticamente. Há também a ideia de que para se proteger a raça, a
mesma deverá ter uma utilidade para o Homem, que poderá passar pela
hipoterapia, desporto ou toureio.
Existe hoje em
dia uma manada que sobrevive, sem grande contacto humano, no Vale do Zebro. Tal
manada, constituída por fêmeas, foi cedida em 2004 pelo criador
alemão Hardy Oelke a uma herdade vedada da dita zona. Um macho foi igualmente cedido,
durante dois anos, por um descendente do Dr Ruy D’Andrade, para cobrir as fêmeas,
visto se tratar de um animal pertencente a uma manada diferente, logo não tão
próximo geneticamente. Algumas actualizações do estado desta manada foram sendo
feitas e podem ser consultadas, no site seguinte:
O objectivo é
existir um grupo de animais que mantenha as suas características selvagens como
por exemplo a estrutura social típica de um equídeo em liberdade, sem
qualquer interferência humana.
Esperemos que este belo animal consiga prosperar e que possamos vê-lo, em maior número, no nosso território, de modo a continuar a apreciar a sua beleza e rusticidade.