Thursday, July 28, 2016


Gamo - o quebra-cabeças europeu


O Gamo (Cervus dama) pertence à família dos cervídeos e tem dimensões intermédias se comparadas com os seus dois “primos” que existem na Península Ibérica: o Veado (Cervus elaphus) e o Corço (Capreolus capreolus), sendo que pode atingir um comprimento do corpo de 150 cm (machos) e 130 cm (fêmeas), uma altura de 100 cm (machos) e 80 cm (fêmeas) e pode pesar 70 kg (machos) e 40 kg (fêmeas).

Fonte: www.biomon.org/en/cadastre/monitoring-of-numbers-distribution-and-bagging-of-game-species/numbers-distribution-and-bagging-of-fallow-deer-cervus-dama/


Não é só nas dimensões que existem diferenças entre estas três espécies. Também em termos da fisionomia o gamo apresenta algumas singularidades que o distinguem, facilmente, das outras espécies: dois tipos de coloração, a de Verão (com manchas brancas no dorso e pelagem castanha clara) e a de Inverno (sem manchas e pelagem uniforme castanha-acinzentada); escudo anal branco, ladeado de faixas negras e cauda mais comprida (se comparada com o veado e com o corço); para além de hastes espalmadas (só os machos desta espécie as possuem).

Fonte: //olhares.sapo.pt/gamo-na-tapada-de-mafra-foto5008094.html


Fonte://olhares.sapo.pt/gamo-na-tapada-de-mafra-foto5008094.html


Em termos de modo de vida, os gamos vivem a maior parte do ano em dois tipos de rebanhos: machos adultos e fêmeas com crias do ano anterior. A época de reprodução destes animais (época da brama), em Portugal, dá-se no mês de outubro, altura na qual os machos delimitam um território com marcações visuais e olfativas e defendem-no de outros rivais. Com isto pretendem que grupos de fêmeas se instalem para que possam acasalar com elas. O nascimento das crias (geralmente uma por fêmea) ocorre nos finais de maio e princípios de junho.

Fonte: www.gvpthg.net/com/fotos.php?t=81&lg=pt&w=tapada_nacional_de_mafra

Porquê denominar o gamo como um quebra-cabeças? Este animal pertenceu à fauna europeia no período glaciar. Em particular, existem provas científicas que demonstram que este animal fez parte da fauna portuguesa no Plistocénico, pois encontraram-se restos destes animais nalgumas jazigas (Gruta Nova da Columbeira, Algar de João Santos e Pedreira das Salemas), bem como uma gravura rupestre onde se vislumbra um gamo, que ocorre no Vale do Côa. Pensa-se que se terá extinto, pois seguidamente a esta era existe um hiato, não se encontrando restos deste animal. Terá realmente desaparecido na sua totalidade? Esta situação só sofreu uma mudança na altura em que a Península Ibérica esteve sob a influência romana. Supõe-se que poderão ter persistido populações relíquia na Ásia Menor e na Itália que permitiram uma sucessão de introduções na Europa, por parte dos romanos, o que levou ao seu reaparecimento em locais onde outrora esteve desaparecido. No entanto, até ao momento, esta espécie é considerada, em Portugal, como alóctone (não originário do país ou região onde habita).

Mapa de distribuição do gamo, a nível europeu:
Fonte: //cantur.com/instalaciones/mapa-cabarceno/53-gamo--ii/categoria-4

Em Portugal a maioria dos espécimes encontra-se a viver em zonas muradas (Tapada de Mafra, Tapada de Vila Viçosa), Parques públicos (Parque de Lazer do Perímetro Florestal da Conceição de Tavira) e coutadas de caça (Herdade de Vale Feitoso, Serra de Portel, Herdade das Romeiras, entre outras). As populações selvagens destes indivíduos são escassas, no entanto podemos encontrar alguns animais em plena liberdade, por exemplo, na Reserva Natural do Paúl do Boquilobo.

Ao que parece o gamo pode competir pelo mesmo alimento com o veado, sendo que esta situação ocorre também noutros continentes onde existem espécies que possuem a mesma preferência alimentar.

Fonte: www.panoramio.com/photo/108423310

Visto que está cientificamente provado que esta espécie já coabitou e pertenceu ao grupo de mamíferos de grande porte que viviam nas nossas florestas em eras passadas, poder-se-ia pensar em reintroduzi-la em diferentes zonas do país, incluindo no nossos parques e reservas nacionais, não só como incremento à biodiversidade local e regional, mas também tendo em conta que este é um animal que entra no cardápio de duas espécies ameaçadas de carnívoros a nível nacional: o lobo e lince ibéricos.

Temos de voltar a trazer espécies que promovam um ecossistema variado e saudável. Só desta forma se pode almejar uma maior sustentabilidade.



Friday, September 5, 2014

O Zebro (Tarpan ibérico)


Estamos constantemente a ouvir que existe um grande número de espécies que se encontram ameaçadas. No entanto associamos sempre estas a espécies selvagens não próximas do ser humano. Não obstante, existem algumas que se tornaram muito familiares e que hoje em dia se encontram em apuros. Uma dessas espécies é o cavalo do Sorraia. Este animal encontra-se em grande perigo de desaparecer e, com ele, um dos pontos de ligação entre os cavalos modernos e os ancestrais. Toda a fisionomia deste animal assemelha-se ao dos cavalos selvagens que outrora percorreram os habitats naturais da Península Ibérica (os ditos Tarpans), e estudos de DNA já demonstraram que esta raça é das mais primitivas que se conhece.

Tarpans (da estepe, no lado esquerdo, e da floresta, no direito)  - fonte: goodelie.chez.com

Este cavalo tem um perfil convexo e apresenta zebruras no corpo (daí o nome zebro), em especial nos membros. Estas características encontram-se representadas nalgumas pinturas do paleolítico do sul da Península Ibérica, o que leva a crer que o cavalo do Sorraia representa o cavalo selvagem que habitou a região quente meridional da Península. Em termos de coloração pode ser baio ou rato e possui uma crina e cauda bicolores para além da chamada risca de mulo que percorre todo o dorso do animal. As fêmeas têm cerca de 1,44 m até ao garrote, podendo os machos chegar a atingir 1,48 m.

Fonte: sorraia.org

A existência, até aos nossos dias, deste animal deve-se ao Dr Ruy D’Andrade, que em 1920 encontrou um grupo destes animais a pastar perto de Coruche, nos arredores do rio Sorraia (que acabou por dar o nome à raça). A partir daí, adquiriu alguns exemplares (sete fêmeas e três machos) e começou a sua reprodução, no sentido de evitar o seu desaparecimento, tendo também sido o responsável pela promoção da raça. A sua família prosseguiu com o seu legado até aos nossos dias.

Pensa-se que, no total, existam cerca de 200 indivíduos, o que é um número especialmente baixo no que toca à viabilidade de uma espécie, ainda para mais tendo em conta o núcleo de cavalos que lhe deu origem. Isto faz com que a população destes animais tenha um alto nível de consanguinidade, com todos os problemas que daí advêm.

fonte: ravenseyrie.blogspot.pt

A nível nacional e internacional existem alguns criadores deste animal, o que demonstra algum interesse por parte de pessoas que não querem ver este belo animal desaparecer. Alguns esforços estão, portanto a ser feitos. Essa informação, e outras, disponível no site:


Mas é necessário mais, em especial no que toca à divulgação desta raça e suas características únicas à população portuguesa em geral. O facto de termos este cavalo no nosso território é muito importante a nível europeu e mundial, especialmente quando se fala, cada vez mais, em renaturalizar a Europa com espécies de mamíferos de grande porte.

Poderia esta espécie ser deixada em total liberdade, para ocupar o lugar que outrora teve no ecossistema ibérico? Segundo alguns investigadores, é preferível manter a raça em liberdade condicionada, de forma a que se evitem cruzamentos de indivíduos muito próximos geneticamente. Há também a ideia de que para se proteger a raça, a mesma deverá ter uma utilidade para o Homem, que poderá passar pela hipoterapia, desporto ou toureio.

Existe hoje em dia uma manada que sobrevive, sem grande contacto humano, no Vale do Zebro. Tal manada, constituída por fêmeas, foi cedida em 2004 pelo criador alemão Hardy Oelke a uma herdade vedada da dita zona. Um macho foi igualmente cedido, durante dois anos, por um descendente do Dr Ruy D’Andrade, para cobrir as fêmeas, visto se tratar de um animal pertencente a uma manada diferente, logo não tão próximo geneticamente. Algumas actualizações do estado desta manada foram sendo feitas e podem ser consultadas, no site seguinte:


O objectivo é existir um grupo de animais que mantenha as suas características selvagens como por exemplo a estrutura social típica de um equídeo em liberdade, sem qualquer interferência humana.


Esperemos que este belo animal consiga prosperar e que possamos vê-lo, em maior número, no nosso território, de modo a continuar a apreciar a sua beleza e rusticidade.


Friday, February 18, 2011

Ouro incolor

Estamos sempre a dar como garantidos alguns dos recursos que utilizamos para a nossa sobrevivência. Embora estes sejam de todos, temos de perceber que é necessário racionalizar. Julgo que não damos o devido valor a um bem que se está a tornar cada vez mais escasso e, como tal, mais precioso. Refiro-me à água, esse bem que é indispensável à vida no nosso planeta.



Devemos, no entanto, analisar de que forma consideramos este ouro incolor: respeito e veneração nalguns casos, mas maioritariamente com desprezo e desdém. Sabemos que somente 3% da água do planeta Terra é doce, mas só 1% é passível de ser utilizada por nós. Mas como a tratamos? Utilizamos sem controlo, barramos e poluímos. Utilizamos sem controlo pois no nosso dia-a-dia gastamos em excesso para algumas actividades (lavagem de dentes; banhos de imersão; lavagem de carros; irrigação de jardins). Barramos com o recurso à construção de barragens, que embora sejam uma forma de obter energia que não emite gases que acentuam o efeito de estufa, acarretam várias complicações (salinização de solos na foz dos rios; alagamento de habitats; obstrução de passagens, nalguns casos, para as espécies piscícolas).



Poluímos, pois muitas vezes são realizadas descargas não autorizadas para os nossos rios e ribeiras o que vai influenciar e degradar todo o ecossistema ribeirinho e aquático, para além de que ainda existem localidades que não se encontram abrangidas por um sistema de tratamento de águas residuais, havendo daí consequências negativas (libertação de odores desagradáveis em determinadas alturas do ano e morte dos seres vivos aquáticos). Para além do que já foi referido também a agricultura (uso de substâncias químicas para fertilização dos solos ou eliminação de seres prejudiciais às culturas) ou a utilização dos solos como depósito de lixos urbanos (aterros sanitários) influenciam a qualidade da água .


Nos meios de comunicação já se começa a ver, com alguma frequência, noticiadas informações que dizem respeito a secas extremas ou poluição grave de cursos de água, chamando assim a atenção para algumas questões que começam a surgir e que daqui a alguns anos (não muitos) se prevê tornar num problema de várias gerações.

Como modificar esta tendência global de gastar, sem controlo, este ouro incolor? Certamente passará por racionalizar o seu uso. De que forma? Sensibilização das populações para minimizar as perdas de água potável, através do uso equilibrado no dia-a-dia de cada indivíduo (por exemplo:lavagem de roupa e louça com as respectivas máquinas com a capacidade máxima; higiene diária – banho e lavagem de dentes – com o acto simples de fechar a torneira quando não se está a utilizar a água), em termos municipais (por exemplo através da ligação dos esgotos públicos a estações de tratamento de águas residuais - ETAR’s -, bem como da utilização das águas resultantes do tratamento dessas estações para rega de jardins públicos), ou mesmo a nível nacional (pesquisa de meios alternativos de obtenção de energia, reciclagem de materiais, erradicação de produtos químicos nocivos e incentivo da agricultura biológica).




Está nas mãos de toda a sociedade iniciar a mudança de comportamentos e atitudes, e embora os mais novos tenham um papel crucial, temos de contar com o bom senso da população de todas as idades. Temos de começar a agir já e não esperar que os nossos jovens se tornem adultos para resolver os problemas que criámos.

Thursday, May 15, 2008

Reintroduções precisam-se!

Portugal é ainda um país que possui uma rica diversidade de espécies animais. No entanto, grande parte delas encontra-se ameaçada essencialmente pela perda de habitat que permita a sua sobrevivência.
Mesmo os nossos parques naturais, que supostamente teriam condições necessárias para as diferentes espécies animais realizarem as suas funções vitais, estão depauperados em termos de biodiversidade.
Surpreende-me que não haja mais acções que permitam o reaparecimento de algumas espécies no nosso país, essencialmente nas nossas áreas protegidas, de forma a que o número e a diversidade de fauna seja incrementada.
Julgo que até agora, o único caso de reintrodução de espécies animais numa área protegida deu-se quando se procedeu à reprodução e posterior libertação de exemplares de Caimão-comum (Porphyrio porphyrio) nos Pauis do baixo Mondego, no início de 1999. O caimão-comum é uma ave da família dos ralídeos e possui um bico e escudete frontal vermelhos e patas rosadas e a sua plumagem é azul com reflexos metálicos.

Fonte: fotografia de Dani L. Huertas in Doñana bird tours

Para além desta espécie, mais nenhuma teve a honra de ser escolhida para um programa de reintrodução. O reaparecimento recente no nosso país de uma espécie de grande porte: a Cabra-montês (Capra pyrenaica victoriae) no Parque Nacional da Peneda-Gerês, deveu-se a introduções levadas a cabo pelos nossos vizinhos espanhóis, e é graças a esta e a outras reintroduções do lado de lá da fronteira que muitas espécies reaparecem no nosso território, expandindo-se de seguida, caso encontrem condições para tal.
Mas o que fazemos nós para garantir que as nossas espécies que ainda lutam para sobreviver não desapareçam totalmente? Bem...aparentemente nada!
Na minha singela opinião quando uma espécie começa a crescer em termos populacionais (coisa que ainda é rara), devemos tentar recolocar os excedentes em zonas onde já desapareceram. Muitas vezes, a solução encontrada passa única e exclusivamente pelo abate dos animais em excesso! Não digo que a caça não desempenhe um papel de relevo na economia e na tentativa de preservação de espécies (afinal algumas das espécies de caça começam a regressar às zonas de caça associativa devido à vontade dos caçadores), mas a verdade é que um animal vivo poderá valer bem mais do que um abatido, isto porque a caça fotográfica gera rendimentos a longo prazo. Um animal pode ser "caçado" através da máquina fotográfica várias vezes ao longo da sua vida.
E é exactamente nesta área que ainda falhamos: o turismo ambiental com safaris fotográficos pode ser uma fonte de rendimento para as populações que se encontram inseridas ou perto das áreas protegidas! Porque não incrementar o número de espécies, de forma a que os ecossistemas sejam sarados das agressões e extinções a que têm vindo a ser alvo?
Seria interessante e compensador pensar que o Veado (Cervus elaphus) pudesse deambular pelo nosso único Parque Nacional, ou que as Águias-pesqueiras (Pandion haliaetus) voltassem a nidificar e alimentar a sua prole nos rochedos do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina.
Temos de garantir que as gerações futuras possam usufruir sustentadamente da diversidade que existe. Necessitamos é de começar por algum lado!

Wednesday, May 14, 2008

Nefastas ou benignas?

No que respeita às espécies vegetais e animais que habitam o nosso território, especialmente aquelas que são exóticas e foram trazidos pelo Homem ao longo dos últimos anos, podemos considerar que são nefastas para a biodiversidade, ou pelo contrário, benignas?

Tudo indica que grande parte corresponde à primeira hipótese, isto porque hoje em dia são bem visíveis, na paisagem, os problemas causados por algumas espécies, como por exemplo as acácias (Acacia ssp.) e o chorão (Carpobrotus edulis) , no grupo das plantas ou, no caso dos animais, o lagostim-vermelho-da-Louisiana (Procambarus clarkii), entre outras. Conseguiram-se adaptar de tal modo ao novo ambiente que se tornaram invasoras, competindo com as espécies nativas e, nalguns casos, ameaçando-as de desaparecimento.


No entanto, existem algumas espécies exóticas que não possuem um carácter invasivo que as espécies acima citadas, como por exemplo as tílias (Tilia ssp.), nas plantas, ou o camaleão (Chamaeleo chamaeleon), no caso dos animais. Estas espécies estão adaptadas ao novo ambiente mas poderão ser consideradas como um incremento à biodiversidade nacional, não havendo quaisquer dados que sejam espécies que coloquem em risco as autóctones.

Como devemos então encarar esta dicotomia em relação às espécies exóticas? Suponho que o melhor a fazer é prevenir, ou seja, aplicar o princípio da precaução. Embora existam (poucas) espécies que se adaptaram sem causar qualquer tipo de impacto, é necessário que se evite introduções de espécies exóticas. Por todo o globo podemos constatar que uma acção que se julga benéfica ou interessante pode tornar-se catastrófica.

Temos pois de olhar para as nossas acções actuais e questionarmo-nos do seguinte: queremos ser espécies nefastas ou benignas?

Tuesday, April 10, 2007

Conhecer para melhor preservar

O Parque Natural do Tejo Internacional (PNTI) foi criado a 18 de Agosto de 2000, embora esta área já tenha sido, a 23 de Setembro de 1999, declarada como Zona de Protecção Especial, devido aos seres que nela habitavam.


Nos diversos ecossistemas do PNTI encontram-se já inventariadas cerca de 300 espécies de plantas, 24 de fungos, 154 de aves, 44 de mamíferos, 15 de anfíbios (das 17 existentes em Portugal), 20 de répteis (das 27 presentes no território nacional), 12 de peixes, 153 de insectos, entre outras.
No que se refere à flora e vegetação encontramos, nesta área, extensos montados de azinho (Quercus rotundifolia) e sobro (Quercus suber), zambujais (Olea europaea var. sylvestris), comunidades de zimbro-bravo (Juniperus oxycedrus) e vastas manchas de matagal mediterrânico.
Das espécies animais presentes, e em relação às aves, destaca-se a cegonha-preta (Ciconia nigra), a águia-real (Aquila chrysaetos), a águia-imperial (Aquila adalberti), a águia de Bonelli (Hieraaetus fasciatus), o abutre do Egipto (Neophron percnopterus), o grifo (Gyps fulvus), o abutre-preto (Aegypius monachus), o bufo-real (Bubo bubo), o falcão-peregrino (Falco peregrinus), o peneireiro-das-torres (Falco naumanni) e o chasco-preto (Oenanthe leucura). No caso dos mamíferos encontramos a lontra (Lutra lutra), a geneta (Genetta genetta), o gato-bravo (Felis silvestris), o javali (Sus scrofa) e o veado (Cervus elaphus).


A agricultura é também um sector que se encontra presente nesta área protegida.
De entre os vários sistemas agrícolas tradicionais que ocorrem no PNTI destacam-se, pela sua importância para a Conservação da Natureza: os sistemas policulturais tradicionais; os sistemas cerealíferos de sequeiro; o montado de sobro e azinho; e o olival de encosta.
A manutenção destes sistemas, em conjunto com as manchas florestais, principalmente de espécies autóctones, formam um mosaico fundamental para a manutenção da biodiversidade característica destes ecossistemas e dos quais dependem directa ou indirectamente um variado conjunto de espécies. Como tal, dever-se-á dar continuidade à utilização do terreno pelo Homem, nomeadamente na forma de pastoreio, fogo controlado, cortes selectivos ou fomento da regeneração natural.
Por outro lado, na área do Parque Natural, a actividade apícola é uma prática que, para além da vertente económica associada, tem um papel preponderante no equilíbrio ecológico da flora através da actividade polinizadora das abelhas que se traduz, não só no aumento da produtividade e rentabilidade das diversas culturas agrícolas mas, também, pela reprodução eficaz da vegetação natural.
A produção animal associada (ovinos, caprinos e bovinos), representa na área do PNTI a utilização tradicional do espaço que permitiu ao longo das últimas décadas a recuperação da população de aves necrófagas. Como tal deverá ser incentivada. A preservação do património genético animal através da recuperação de raças autóctones nomeadamente em ovinos - Merino da Beira Baixa -, nos caprinos – Charnequeira - e nos suínos - Porco Alentejano -, com manutenção das práticas culturais associadas a estas raças, é imprescindível para a promoção da diversidade biológica e o equilíbrio destes agroecossistemas.

Estruturas da Quercus na região

A Quercus possui quase 600 ha nesta região, parte dos quais na freguesia do Rosmaninhal no concelho de Idanha–a–Nova e outra parte correspondente ao Monte Barata, herdade localizada nas freguesias de Malpica do Tejo e Monforte da Beira no concelho de Castelo Branco.

Casa Retiro do Rosmaninhal – tem como objectivo o apoio ao Turismo de Natureza, de forma a que seja compatível com a preservação dos valores naturais e com as premissas de desenvolvimento local sustentável.

O Monte Barata - neste local pretende-se realizar actividades de conservação dos solos, projecto de arborização e manutenção/fomento da área de montado, manutenção de olival, actividades de conservação da Natureza, turismo natureza, educação ambiental, investigação, etc.



Nem todos os actos efectuados pelo Homem são danosos ao meio ambiente, desde que sejam racionalmente coerentes e sustentáveis. Para tal, todos os intervenientes, quer sejam residentes ou não de determinada zona, devem estar envolvidos na manutenção dos costumes tradicionais e turismo que estejam em harmonia com os diferentes ecossistemas. Só desta forma se poderá conservar a rica biodiversidade do nosso país.

Fonte: www.quercus.pt

Friday, March 30, 2007

O fugitivo!

O intercâmbio de seres vivos entre diferentes regiões pode ser um problema quando algumas espécies não indígenas de uma determinada zona são libertadas em novas áreas, longe do seu país de origem. Um, entre muitos casos, é o do visão-americano (Mustela vison).

O visão-americano é uma espécie oriunda da América do Norte e do Canadá. Daí foi introduzida em muitos outros locais do planeta, com especial destaque na Europa e Ásia, onde tem sido criada em cativeiro para a produção de peles. Muitos destes animais cativos conseguiram escapar e em alguns locais conseguiram mesmo estabelecer populações estáveis. Nos últimos tempos, activistas dos direitos dos animais têm retirado estes animais do seu cativeiro e libertado os mesmos na natureza. É verdade que a criação de animais selvagens em quintas é um acto de pura e vil crueldade, mas a solução não passa por libertar animais estranhos a um determinado meio.


Em Portugal pensa-se que terá sido introduzido há menos de 50 anos por fuga de quintas em Espanha. Até agora a espécie parece ocorrer apenas na região da bacia do rio Minho e a sua presença está confirmada no Parque Nacional da Peneda-Gerês. Parece ser uma espécie pouco abundante no nosso País, mas a população aparenta estar em crescimento.


É um predador oportunista e consome as presas mais abundantes e acessíveis. Alimenta-se principalmente de pequenos mamíferos, peixes, anfíbios, répteis e lagostins. Também se alimenta de insectos, vermes e pequenas aves. No Verão e no Outono, o lagostim parece ser um item alimentar bastante importante.



Sendo uma espécie invasora e com uma grande capacidade de adaptação, ela poderá competir eficazmente e mesmo substituir, espécies com quem co-habita. Pensa-se que em alguns locais da Europa, esteja a ter um efeito nefasto sobre a fauna nativa, nomeadamente sobre o visão-europeu (Mustela lutreola), a lontra (Lutra lutra), o toirão (Mustela putorius), o rato-de-água (Arvicola sapidus) e a galinha de água (Gallinula chloropus).
A competição dá-se sobretudo pela aquisição de recursos alimentares e território, essenciais para a normal reprodução e subsistência da espécie cujos habitats foram invadidos pelo visão-americano.
Faltam, portanto, estudos que permitam descobrir qual a situação do visão em Portugal em termos de dispersão e efectivos populacionais e quais as consequências directas no meio onde se estabeleceu. Deve-se preservar a biodiversidade que existe no nosso país e para tal não se deve comprometer a mesma com introduções nefastas.

Fontes:
carnivora.fc.ul.pt
www.naturlink.pt
www.quercus.pt