Friday, March 30, 2007

O fugitivo!

O intercâmbio de seres vivos entre diferentes regiões pode ser um problema quando algumas espécies não indígenas de uma determinada zona são libertadas em novas áreas, longe do seu país de origem. Um, entre muitos casos, é o do visão-americano (Mustela vison).

O visão-americano é uma espécie oriunda da América do Norte e do Canadá. Daí foi introduzida em muitos outros locais do planeta, com especial destaque na Europa e Ásia, onde tem sido criada em cativeiro para a produção de peles. Muitos destes animais cativos conseguiram escapar e em alguns locais conseguiram mesmo estabelecer populações estáveis. Nos últimos tempos, activistas dos direitos dos animais têm retirado estes animais do seu cativeiro e libertado os mesmos na natureza. É verdade que a criação de animais selvagens em quintas é um acto de pura e vil crueldade, mas a solução não passa por libertar animais estranhos a um determinado meio.


Em Portugal pensa-se que terá sido introduzido há menos de 50 anos por fuga de quintas em Espanha. Até agora a espécie parece ocorrer apenas na região da bacia do rio Minho e a sua presença está confirmada no Parque Nacional da Peneda-Gerês. Parece ser uma espécie pouco abundante no nosso País, mas a população aparenta estar em crescimento.


É um predador oportunista e consome as presas mais abundantes e acessíveis. Alimenta-se principalmente de pequenos mamíferos, peixes, anfíbios, répteis e lagostins. Também se alimenta de insectos, vermes e pequenas aves. No Verão e no Outono, o lagostim parece ser um item alimentar bastante importante.



Sendo uma espécie invasora e com uma grande capacidade de adaptação, ela poderá competir eficazmente e mesmo substituir, espécies com quem co-habita. Pensa-se que em alguns locais da Europa, esteja a ter um efeito nefasto sobre a fauna nativa, nomeadamente sobre o visão-europeu (Mustela lutreola), a lontra (Lutra lutra), o toirão (Mustela putorius), o rato-de-água (Arvicola sapidus) e a galinha de água (Gallinula chloropus).
A competição dá-se sobretudo pela aquisição de recursos alimentares e território, essenciais para a normal reprodução e subsistência da espécie cujos habitats foram invadidos pelo visão-americano.
Faltam, portanto, estudos que permitam descobrir qual a situação do visão em Portugal em termos de dispersão e efectivos populacionais e quais as consequências directas no meio onde se estabeleceu. Deve-se preservar a biodiversidade que existe no nosso país e para tal não se deve comprometer a mesma com introduções nefastas.

Fontes:
carnivora.fc.ul.pt
www.naturlink.pt
www.quercus.pt

Thursday, March 29, 2007

Campanha erosiva

À medida que se massifica o uso da terra para a agricultura, fomentando para isso a destruição das florestas, vai-se promovendo uma erosão responsável por um complexo processo de desertificação, que inclui não só a degradação do solo e da vegetação, mas também uma escassez de recursos hídricos e uma progressiva perda de diversidade biológica.
Uma situação, em Portugal, que promoveu esta problemática ocorreu aquando se iniciou a “campanha do trigo”, nas décadas de 30, 40 e 50. A região do Alentejo, foi desbravada (ainda mais do que já tinha sido até então) e áreas extensas de montado foram destruídas sendo posteriormente utilizadas para o cultivo de cereais, em especial, e tal como o nome indica, de trigo.

As consequências desta campanha levaram a um intenso aproveitamento agrícola dos terrenos pobres. Abandonou-se quase por completo o tradicional sistema de rotação de culturas, deixando de se cumprir os prazos mínimos de pousio. Isto provocou um esgotamento dos solos.
Para além disso, muitos animais perderam os seus habitats, e em especial uma das espécies mais emblemáticas em termos de conservação em Portugal – o lince-ibérico (lynx pardinus) – que com esta campanha viu destruir as comunidades florísticas autóctones indispensáveis para a sua sobrevivência.

As consequências desta acção são sentidas nos dias de hoje, pois os solos estão cada vez mais pobres e desgastados e não existe, aparentemente, uma vontade nacional de reverter esta situação. Exemplo disso é a construção da barragem do Alqueva que serviria para promover a agricultura de regadio no Alentejo.
O problema é sempre o mesmo – monoculturas que não estão de acordo com o tipo de solo e clima da região e promotoras da erradicação das espécies indígenas indispensáveis à vida de variados seres.

Thursday, March 8, 2007

O retorno do ajudante da floresta!


O esquilo-vermelho (Sciurus vulgaris), foi abundante em Portugal, mas em meados do século XVI extinguiu-se no território nacional. No entanto, o bom filho à casa torna. Desde os anos 80 que se tem vindo a dispersar, vindo de Espanha, pelo território nacional a partir da zona Norte. Também foi libertado no Parque Florestal de Monsanto em Lisboa e no Jardim Botânico de Coimbra com resultados bastantes satisfatórios. Desde então, outras regiões têm vindo a beneficiar da presença deste vistoso roedor e nalgumas zonas, tornou-se já comum. Actualmente, já se encontram estabelecidos no Parque Nacional da Peneda-Gerês e no Parque Natural de Montesinho. Um dos casos mais recentes que se encontra registado na imprensa, diz respeito ao regresso do esquilo à Reserva Natural da Serra da Malcata.


Este regresso traz benefícios em vários sentidos. Em primeiro lugar, é mais um incremento na biodiversidade de um país já de si rico em fauna e flora. Por outro lado, o esquilo é presa de espécies animais raras ou em perigo no nosso país, como é o caso da marta (Martes martes) e do açor (Accipiter gentilis) o que pode servir para favorecer um aumento nas populações destas duas espécies. Por fim, sabe-se que este trepador de pelagem que pode ir do vermelho ao castanho-preto tem predilecção por sementes de árvores, especialmente de coníferas e caducifólias, que armazena essencialmente no solo para ingerir mais tarde. Aquelas que são esquecidas podem germinar, fomentando assim a disseminação de determinadas espécies de flora que com o passar do tempo poderão vir a formar novas áreas florestais. Mas para que esta expansão continue na direcção de outras regiões do nosso país, é necessário que não haja alterações nos habitats desta e de todas as outras espécies da nossa fauna. Para tal deve-se reflorestar os nossos ecossistemas com plantas nativas, de modo a que estas proporcionem alimento suficiente aos diferentes seres que delas dependem.

Belas e perigosas

A introdução de espécies exóticas num ecossistema pode ter graves consequências para as espécies indígenas e provocar grandes prejuízos económicos.
Este tipo de invasão biológica constitui, após a perda de habitat, a maior ameaça para a biodiversidade, afirmou Jeffrey A. McNeely, cientista da União Mundial para a Natureza (IUCN). As invasões biológicas são ainda reconhecidas pela Convenção para a Diversidade Biológica como uma das principais causas das alterações globais do planeta.
No nosso país, existem plantas que são consideradas problemáticas. Como um bom exemplo disso temos as espécies do género Acacia.


Estas plantas, muitas delas originárias da Austrália, produzem uma grande quantidade de sementes e a germinação é estimulada pelo fogo. Estes factores são, pois, responsáveis pelo sucesso de colonização da espécie, bem como o facto de ser uma planta utilizada para a fixação de dunas e como ornamental em jardins (devido às suas flores). Nem as nossas áreas protegidas escapam a esta invasão exótica, como é o caso do Parque Nacional da Peneda-Gerês e da Reserva Natural das Dunas de S. Jacinto. Nalgumas zonas, as acácias formam extensas áreas quase mono-específicas, pois impedem o desenvolvimento de outras espécies.


Já se tentaram várias metodologias para erradicar estas plantas, mas esta tarefa tem-se mostrado infrutífera, devido, em parte, à sua notável capacidade de regeneração. A melhor solução para impedir que uma espécie se torne invasora é prevenir a sua entrada e, em seguida, a sua fixação e expansão. Porém, isto implica uma monitorização atenta e preventiva da situação ao nível nacional e a efectiva capacidade para intervir rapidamente e com determinação. Dever-se-ia apostar mais na arborização dos nossos terrenos com espécies nativas, pois só assim se promove a diversidade de uma determinada região.